domingo, 28 de setembro de 2014

Despedida



E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Extraído do livro "A Traição das Elegantes"

Rubem Braga

domingo, 21 de setembro de 2014

Distraídos



Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector

domingo, 14 de setembro de 2014

Música



Todas As Estrelas

É apenas mais uma noite
E estou olhando para a lua
Vi uma estrela cadente
E pensei em você
Cantei uma canção de ninar
À beira-mar e soube
Que se você estivesse aqui
Cantaria para você
Você está do outro lado
À medida que o horizonte se divide em dois
Estou a milhas de distância de te ver
Posso ver as estrelas
Da América
Me pergunto, você as vê também?

Então abra os olhos e veja
Como os nossos horizontes se encontram
E todas as luzes vão me guiar
Pela noite
E sei que essas cicatrizes irão sangrar
Mas os nossos corações acreditam
Todas essas estrelas vão nos guiar para casa

Posso ouvir seu coração
Na batida da rádio
Estão tocando 'Chasing Cars'
E pensei em você
De volta ao tempo
Em que se deitava ao meu lado
Olhei e me apaixonei
Então peguei a sua mão
E pelas ruas, eu soube
Tudo me levava de volta à você
Você pode ver as estrelas
De Amsterdã
Você é a canção para a qual o meu coração
Bate

Então abra os olhos e veja
Como os nossos horizontes se encontram
E todas as luzes vão me guiar
Pela noite
E sei que essas estrelas irão sangrar
Mas os nossos corações sangram
Todas essas estrelas vão nos guiar para casa

E, oh, eu sei
E oh, eu sei, oh
Posso ver as estrelas
Da América

All Of The Stars 
Ed Sheeram (Tema do filme A Culpa É Das Estrelas)